Por: Rodrigo Felipe
CAATINGA
Por: Rodrigo Felipe
Provavelmente você deve conhecer esse bioma, mas não sabia que era assim que se chamava. Paisagens de secas, clima semiárido, árvores sem folhas, grandes períodos sem chuvas, assim já deve ter ligado essas características com o nordeste brasileiro. Pois bem, esse bioma está presente na maior parte do Nordeste, porém não se resume somente nessa região e não são apenas essas paisagens de secas que moldam o panorama das paisagens, veremos mais à frente sobre as suas características e biodiversidade.
A origem do nome Caatinga provém do tupi, que significa caa (mata) + tinga (branca), devido os troncos esbranquiçados das árvores durante os períodos de seca.
Distribuição geográfica
Sendo um bioma exclusivamente brasileiro, corresponde a cerca de 11% do território nacional com 844 mil km² segundo levantamento realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, se estendendo pelos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas Gerais, regiões conhecidas por formarem o Polígono das Secas.
O Polígono das Secas foi criado em 1980 através do Decreto-Lei nº 63.778, de 11 de dezembro de 1968. É a delimitação para designar os territórios que sofrem com problemas de estiagem e abastecimento de água, inicialmente era formado apenas pela região nordeste. O principal objetivo dessa delimitação é criar políticas públicas do governo federal para atender a população e aplicação do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste – FNE, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
É o bioma menos estudado e o menos protegido, apenas cerca de 2% do seu território estão com cobertura de unidades de conservação.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente

Área de ocorrência da caatinga por estados do território brasileiro - Adaptado. Disponível em:<http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/view/266>
Solo e relevo
Grande parte de todo esse território tem solos e relevos característicos, os solos de formas gerais são pouco desenvolvidos, pedregosos, pouco espessos e pobres de matéria orgânica, porém são mineralmente ricos e essa característica é garantia de que existira fertilidade mesmo com a falta de chuvas.
Os solos pedregosos e rasos dificilmente armazenam águas das chuvas e muito menos absorção de nutrientes, porém mesmo assim é praticada a pecuária, instalação de indústrias, desmatamento para gerar carvão, praticas que acabam danificando completamente os solos, acarretando em desertificação e salinização.
Ocorrem diversos afloramentos rochosos característicos de climas árido e semiárido, rochas internas que ficam expostas acima dos solos por processos de erosão, desgaste de solo e dinamismo interno das rochas. Quando esses afloramentos surgem acabam gerando fissuras entre rochas e solos, acumulando detritos, areia e húmus, proporcionando o desenvolvimento de cactos.
O relevo da Caatinga é formado principalmente por depressões e planaltos. Dentre as principais depressões estão São-Francisco, Cearense e Meio-Norte. Já entre os planaltos pode ser destacado o da Borborema localizado em Pernambuco, possui cerca de 400km de extensão e uma altitude média de 500m e que impacta diretamente no clima nordestino. Devido sua altitude as nuvens que vem do mar carregadas de chuvas encontram o paredão que funciona como uma barreira, impedindo que passem para a parte interior do Nordeste, provocando a seca da caatinga.
Uma formação de relevo característica na depressão nordestina é o inselberg, são blocos e paredões rochosos que resistem ao desgaste natural e processos erosivos.

Afloramento rochoso. Fonte: Ewerton Torres / Pinterest
O relevo da Caatinga é formado principalmente por depressões e planaltos. Dentre as principais depressões estão São-Francisco, Cearense e Meio-Norte. Já entre os planaltos pode ser destacado o da Borborema localizado em Pernambuco, possui cerca de 400km de extensão e uma altitude média de 500m e que impacta diretamente no clima nordestino. Devido sua altitude as nuvens que vem do mar carregadas de chuvas encontram o paredão que funciona como uma barreira, impedindo que passem para a parte interior do Nordeste, provocando a seca da caatinga.

Fonte: Raqsonu, 2011
As massas de ar úmidas que vem do oceano para o continente através da circulação atmosférica acabam encontrando o planalto que funciona como uma grande barreira devido sua altitude. Essa massa de ar acaba subindo, ganhando altitude e perdendo temperatura, então condensam gerando as chuvas que ocorrem apenas para o lado do oceâno.
Depois da chuva, essa massa de ar perde altitude e ganha temperatura, avançando nordeste a dentro como uma massa de ar seco.
Uma formação de relevo característica na depressão nordestina é o inselberg, são blocos e paredões rochosos que resistem ao desgaste natural e processos erosivos.

Serrote da Pia
O Serrote da Pia é uma formação rochosa conhecida por inselberg, localizado na região de Patos, Sertão paraibano.
Fonte: Chico Figueiredo / Flickr
Pedra da Andorinha
O nome “Pedra da Andorinha” foi dado a esse relevo em razão da grande quantidade de espécies de aves que usufruem das condições climáticas e do abrigo promovido pelas cavidades. Cerca de 14 tipos de andorinhas costumam se refugiar nessa feição no verão, migrando para o sul no inverno, rumo a Patagônia (DIÁRIO DO NORDESTE, 2017).

Fonte: Wesley Feitosa Rodrigues
Clima
O clima é caracterizado como árido e semiárido, quente e seco. Os períodos de chuvas e de secas definem como as paisagens da Caatinga estarão caracterizadas. As chuvas ocorrem no inverno e duram de 3 a 5 meses, porém são torrenciais, ou seja, geralmente são rápidas, durante esse período a paisagem muda, deixa o aspecto de “morta” e as arvores ficam verdes, gramas se desenvolvem e até mesmo flores podem florescer. Os rios acabam por serem caracterizados como temporários ou intermitentes, pois a maioria deles só ocorrem durante esses períodos de chuvas e secam durante o período de secas, quando com volume eles desaguam principalmente nos rios São Francisco e do Paranaíba, dois rios que cruzam a Caatinga e possuem água corrente o ano todo e também desaguam diretamente no mar.

Contraste do período seco e chuvoso Fonte: Ecodebate

Fonte: eFlora Web

Fonte: Marcio Isensee e Sá
Já os períodos de secas duram de 7 a 9 meses praticamente sem chuvas, com temperaturas que ficam na média de 28°C, algumas cidades já foram noticiadas por passarem períodos de até 2 anos sem chuvas. Muitas regiões acabam por ficarem com açudes e poços completamente secos, necessitando andar distantes regiões para encontrar o mínimo de água, muitas vezes optando até mesmo por condições insalubres. O pouco de chuva que cai acaba evaporando rapidamente dos solos devido as altas temperaturas.
Diferentes tipos de secas são classificados, havendo a seca meteorológica; a seca hidrológica; e a seca agrícola. A meteorológica é o baixo volume de chuvas alinhado com a elevação de temperaturas. A hidrológica é consequência da meteorológica, pois com os baixos volumes os rios perdem vazão, reservatórios secam e prejudica o abastecimento. Já a agrícola é consequência conjunta das duas primeiras, pois sem chuvas e sem abastecimento de reservatórios e baixo fluxo dos rios as atividades não conseguem ser desempenhadas, impactando diretamente na economia e sobrevivência das populações.

Fonte: SSpS Brasil Norte

Fonte: brasil Escola

Fonte: Felipe Alves / Pinterest
Vegetação
A vegetação da Caatinga chama atenção devido as adaptações das plantas ao clima árido e semiárido, possibilitando assim uma grande diversidade da vegetação com espécies de lenhosas, herbáceas, cactáceas e bromeliáceas. Estima-se que pelo menos 932 espécies já foram registradas para a região, das quais 380 são endêmicas (MMA), sendo características árvores baixas e arbustos
Devido aos longos períodos de secas, as plantas desenvolveram mecanismos para contornar as condições escassas, muitas delas perdem as folhas para reduzir a superfície de incidência do sol e evitar a perda excessiva de água por transpiração. Outras como o Juazeiro possuem raízes extensas e profundas que penetram o solo para captar água, assim evitam de perder suas folhas e permanecem com o mesmo aspecto durante o ano inteiro. Os cactos são os principais representantes de adaptações, reservam água dentro deles mesmo em seus tecidos, além disso apresentam folhas modificadas em espinhos e uma espessa cutícula que evita o ressecamento.

Juazeiro (Ziziphus joazeiro) Fonte: Marthajac / Wikimedia Commons

Coroa-de-frade (Melocactus Zehntneri) Fonte: Eduardo Antônio de Lucena Lisboa /Wikimedia Commons

Xique-xique (Pilosocereus polygonus) Fonte: Wikimedia Commons

Umbuzeiro (Spondias tuberosa L) Fonte: Eduardo Henrique / VivaCaatinga
Fauna
Os dados mais atuais sobre a fauna da Caatinga indicam uma grande diversidade. Entre mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes e abelhas, cerca de 1487 espécies de animais vivem nesse bioma, dentre essas estima-se que 327 são endêmicas, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.
São 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 abelhas. Muitas delas com hábitos noturnos, justamente para escapar das altas temperaturas e também do solo quente que em períodos de seca pode chegar a mais de 45°C.
Ainda hoje a Caatinga é pouco estudada no ramo de diversidade animal, as grandes pesquisas optam por levantamentos de grandes florestas como a Amazônia e Mata atlântica onde se tem um endemismo maior principalmente de mamíferos e aves, além disso, esse bioma é um dos menos protegidos do país, já que pouco mais de 1% das unidades de conservação existentes para monitoramento da biodiversidade são de Proteção Integral de acordo com o MMA, abrindo muitas brechas para o tráfico de animais silvestres.
Alinhando a pouca fiscalização e alto índice de desmatamento algumas espécies estão ameaçadas de extinção ou até mesmo extintas, como é o caso da ararinha-azul individuo desapareceu em 2000, contando atualmente apenas com exemplares que estão sendo criados em cativeiros e unidades de conservação.
A asa-branca, uma ave simbolo da caatinga serviu de inspiração para Luiz Gonzaga, grande compositor e cantor nordestino, qual sua canção leva o nome da ave e retrata as dificuldades de viver em meio a seca nordestina. Confira a musica e sua letra aqui.
Dentre outros animais da caatinga, está o anfíbio popularmente conhecido como sapo-cururu (Rhinella marina) e diversos mamíferos como onças, macacos-pregos e o veado catingueiro, além de diversas espécies de répteis, que são os que mais se adaptam as condições de clima do bioma, como o calanguinho.
A ararinha-azul é retratada na animação Rio 2, juntamente com temas de desmatamento da Amazônia e tráfico de animais silvestres. Porém com um erro, as ararinhas-azuis não são espécies da floresta tropical, e sim da Caatinga.

Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) Fonte: Camile Lugarini

Sapo-cururu (Rhinella marina) Fonte: Bernard Dupont / Wikimedia Commons

Arara-azul-de-Lear (Anodorhynchus leari) Fonte: Joao Quental / Wikimedia Commons

Calango-verde (Ameiva ameiva) Fonte: Olga Ferrarin / VC no TG

Asa-branca (Patagioenas picazuro) Fonte: Dario Sanches / Wikimedia Commons
Terminamos por aqui...
Mas isso não é tudo, acesse o link abaixo para ir direto as atividades na página do aluno!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CERRATINGA. Caatinga, conheça esse bioma. 2016. Disponível em: <http://www.cerratinga.org.br/caatinga>. Acesso em: 16 out. 2019
MMA, Ministério do Meio Ambiente. Caatinga. 2012. Disponível em: <https://www.mma.gov.br/biomas/caatinga>. Acesso em: 18 out. 2019
MORAES, Denise. Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz. Bioma Caatinga. Disponível em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=962&sid=2>. Acesso em: 16 out. 2019.
WWF. WORLD WIDE FUND FOR NATURE. Curiosidades sobre a Caatinga. Disponível em: <https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biomas/bioma_caatinga/bioma_caatinga_curiosidades/>. Acesso em: 20 out. 2019
.
OECO. Associação O Eco. O que é o bioma Caatinga. 2014. Disponível em: <https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28603-o-que-e-o-bioma-caatinga/>. Acesso em: 19 out. 2019
LEAL, Inara R; TABARELLI, Marcelo; Silva, José M. C. Ecologia e conservação da Caatinga. 2. ed. Pernambuco: Ed. Universitaria UFPE, 2005.
ALVES, José J. A. Geoecologia da Caatinga no semi-árido do nordeste brasileiro. Paraíba, 2007. Disponível em:< http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/climatologia/article/view/266>. Acesso em: 16 out. 2019.
SILVA, João B. Panorama sobre a vegetação em afloramentos rochosos do Brasil. Universidade Federal de Pernambuco, 2016. Disponível em:< http://revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/article/view/524/pdf>. Acesso em: 20 out. 2019
PROBIO – Subprojetos Mapeamento Dos Biomas Brasileiros. Projeto de conservação e utilização sustentável da diversidade biológica brasileira. Disponível em:< http://mapas.mma.gov.br/geodados/brasil/vegetacao/vegetacao2002/caatinga/documentos/relatorio_final.pdf>. Acesso em: 20 out. 2019
TRAVASSOS, Ibrahim S; Souza, Bartolomeu I; SILVA, Anieres B. Secas, desertificação e políticas públicas no semiárido nordestino brasileiro. Universidade Federal da Paraíba, 2013. Disponível em:< https://periodicos.ufpb.br/index.php/okara/article/view/10741>. Acesso em: 18 out. 2019
GIULIETTI, A. M. et al. Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. (Org.). Biodiversidade da caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, Universidade Federal de Pernambuco, 2003.
ALVES, Jose J. A; ARAUJO, Maria A; NASCIMENTO, Sebastiana S. Degradação da caatinga: uma investigação ecogeográfica. Caminhos da Geografia. 2008. Disponível em:< http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/15740>. Acesso em: 23 out. 2019
JÚNIOR, M. Pedra da Andorinha é opção de turismo e estudos científicos. Diário do Nordeste. Fortaleza, 2017. Disponível em:<https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/pedra-da-andorinha-e-opcao-de-turismo-e-estudos-cientificos-1.1838920>. Acesso em: 23 out. 2019
GARDA, Adrian Antonio et al. Os animais vertebrados do Bioma Caatinga. Cienc. Cult. São Paulo, 2018. Disponivel em:<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252018000400010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 out. 2019.